sábado, 13 de março de 2010

FORA de SERVIÇO - 6 Março a 10 Abril - Galeria SERPENTE, Porto




FORA DE SERVIÇO (O verbo enrolado) by PAULO MOREIRA
6 Março 2010 até 10 Abril
“Experimentai dar um empurrão a um pensamento: cairá facilmente; mas o que empurra e o pensamento que é empurrado, ambos produzem esse entretenimento que se chama discussão. Vamos ter uma mais tarde? Ou simplesmente podemos decidir que não vamos ter uma discussão. Como queiram.(…)”
John Cage, “Conferência sobre o nada”, Silence
Demasiadas palavras, demasiadas imagens...tudo estará em excesso se assim o quisermos subscrever. Não é o caso; diria que mais palavras viessem e mais imagens as invadissem. Existe uma zona – parafraseando Jean Cocteau – onde se vive a ilusão, onde se confunde o real com o que se pretendia o fosse; onde o real é a memória recorrente, esse tempo de eterno retorno de que nos falava Octavio Paz.
Na minha configuração mental do que seja Fora de Serviço (o verbo enrolado), divido-me entre um vocabulário visual que o pintor nos tem vindo a apresentar ao longo dos anos, acrescido de novos ícones e formulações e a esteriotipização pragmática da língua que reina em exercícios de volúpia insondáveis. Certamente, entrarei num labirinto organizado onde os motivos visuais convivem ad libitum com excertos de textos de valência performática...recuperando tópicos de conversas com Paulo Moreira. Diga-se que vou entrar – once and again – em zone. Pois as palavras escritas correspondem a desígnios, traduzem uma compulsividade criadora que remonta aos primórdios, às origens das expressões artísticas. Recapitulando: sabe-se que a triunica choreia teve a sua origem e sequência nos cultos órficos e dionisíacos...Essa tríade – música, poesia/canto e dança – posteriormente designada por “artes expressivas”, persistiu na primazia da explosão psico-afectiva, procurando redenções catárticas e preconizando muito do que seriam as questões relacionadas com uma certa modalidade estética de recepção por parte dos públicos na contemporaneidade...
A capacidade em suscitar, em provocar estádios supremos de agitação emocional nos espectadores era um dos indicadores do dom (outorgado pelos deuses) e pelo virtuosismo do aedo, esse antepassado – talvez – do performer, do artista que seja em si obra. Ou seja, assim se entenda que ao penetrar em fora de serviço se desencadeiem (presumo isso possa ocorrer) enunciações de angústia, de contorcionismos afectivos, de pulsões radicais (perdoe-se o pleonasmo)... Sublinhe-se o facto dessa profunda aderência do pintor à música e à literatura. Estas constroem uma unidade com as suas musas visuais que Paulo Moreira acreditou...
A condição performativa subjaz à intencionalidade realizadora da obra em exposição; seria uma dupla exposição: as obras bi e tridimensionais e, por outro lado, a assunção identitária que assume as afirmações e deambulações semânticas versus os delírios iconográficos e iconológicos patentes.
E, no centro de tantos elementos, de tanto pensamento, impõe-se o silêncio.
Maria de Fátima Lambert, Porto 2010